A antiga deputada e dirigente comunista Odete Santos morreu, aos 82 anos, anunciou hoje o Secretariado do Comité Central do PCP.

“É com profundo pesar que o Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português cumpre o doloroso dever de informar o falecimento de Odete Santos aos 82 anos de idade e transmite à família as suas condolências”, refere uma nota hoje divulgada.

Nascida em 26 de Abril de 1941, na freguesia de Pêga, concelho da Guarda, Maria Odete Santos era advogada, aderiu ao PCP em 1974 e foi deputada à Assembleia da República entre 1980 e 2007, tendo exercido também vários cargos a nível partidário e autárquico, em Setúbal.

Na nota divulgada, o Secretariado do Comité Central assinala o percurso partidário da antiga deputada, que foi a principal voz do PCP na defesa da despenalização do aborto, em 1984, quando foi aprovada a primeira lei, em 1998, no primeiro referendo e em 2007, quando ganhou o ‘sim’.

“Odete Santos destacou-se pelo seu compromisso com os trabalhadores e o povo, com uma particular ligação com a juventude, afirmando a sua notável capacidade, profundidade de análise, solidariedade, dedicação, frontalidade, coragem e força de intervenção”, enaltece o PCP, recordando também a sua intervenção pela igualdade e a emancipação da mulher.

Odete Santos entrou na Assembleia da República em novembro de 1980, eleita pelo círculo de Setúbal, e renunciou ao mandato em abril de 2007, sendo substituída pelo deputado Bruno Dias, do mesmo círculo eleitoral. Foi deputada da II até à X legislaturas e foi eleita Presidente da Assembleia Municipal de Setúbal em 2002 e em 2005.

Integrou o Comité Central do PCP, a Direção de Organização Regional de Setúbal do PCP e o Movimento Democrático de Mulheres. Foi ainda membro da Associação de Amizade Portugal-Cuba.

O interesse pela atividade política começou antes, quando em 1961 participou nos movimentos associativos estudantis. Foi ainda na faculdade de Direito da Universidade de Lisboa que Odete Santos teve o primeiro contacto com o Partido Comunista Português, ao qual viria a aderir após o 25 de Abril de 1974.

Como dirigente partidária e deputada, destacou-se em áreas dos Direitos, Liberdades e Garantias, na defesa dos direitos dos trabalhadores e dos direitos das mulheres, assuntos que abordou em conferências, debates, entrevistas e artigos publicados, refere a nota, que destaca o “particular significado” da sua intervenção na conquista de novos direitos para as mulheres, nomeadamente o combate ao aborto clandestino e pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez”.

No parlamento, dedicou-se às áreas do direito do Trabalho, Assuntos Constitucionais e direitos das mulheres, tendo sido agraciada com a Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Foi considerada a deputada mais mediática do PCP e, na altura da sua saída do parlamento, o ex-secretário-geral comunista Jerónimo de Sousa elogiou-a como “uma mulher apaixonada e apaixonante” que “põe o coração nas palavras”.

Escreveu vários livros, entre os quais “Em Maio há cerejas” (Ausência, 2003) e “A Bruxa Hipátia – o cérebro tem sexo?” (Página a Página, 2010), destaca o Secretariado do PCP.

“Sucessivas gerações ouviram e recordam a força que imprimiu ao declamar “Calçada de Carriche” de António Gedeão”, assinalou aquele partido.

Odete Santos gozou de uma popularidade que extravasou o âmbito político, com presenças regulares em programas de televisão, desde debates políticos a programas de entretenimento.

Apaixonada pelo teatro amador, a antiga deputada estreou-se nos palcos em 1966. Voltaria a participar numa peça em 1991, e, em 1999, protagonizou “Quem tem medo de Virgínia Woolf” numa encenação do Teatro Animação de Setúbal. Em 2004 aceitou um convite para participar desta vez numa revista, “Arre Potter Qu’É Demais”, no teatro Maria Vitória.