A Casa de António Fragoso, na Pocariça, foi palco do IV Concerto das Janelas Abertas, sessão que proporcionou momentos musicais de excelência às dezenas de pessoas que marcaram presença.

Recorde-se que estes concertos visam recriar uma tradição centenária que prevalece na memória de todo o povo da Pocariça. Tratam-se dos serões de verão, onde se juntavam a António Fragoso e sua família, diversos artistas, proporcionando verdadeiros concertos.

Tal como era tradição nas noites quentes de julho e agosto, abriram-se as sete janelas do piso superior da casa do prestigiado músico e compositor, desta feita para uma singela homenagem a Sergey Rachmaninoff, compositor do tempo de António Fragoso e que faria agora 150 anos.

Presentes no espetáculo para além do anfitrião Eduardo Fragoso, sobrinho do compositor e presidente da Associação António Fragoso, estiveram Pedro Cardoso, vice-presidente da Câmara Municipal, João Moura, presidente da Assembleia Municipal, Nuno Caldeira, presidente da União das Freguesias de Cantanhede e Pocariça, assim como Margarida Mano, vice-reitora da Universidade Católica, entre os muitos familiares e aficionados deste género musical.

O IV Concerto das Janelas Abertas ficou marcado pela diversidade, contando com a participação de jovens alunos pianistas da Escola de Música da Póvoa de Varzim (Afonso Martins e Susana da Costa), sob a orientação do professor Guilherme Cancujo; de Júlio Gonçalves (pianista); de Bernardo Santos (pianista) e Rita Santos (violinista); do Coro Mista da Universidade de Coimbra e de João Vasco e Eduardo Jordão, que interpretaram temas extraordinários, numa apresentação intitulada “20 fingers” – a quatro mãos, portanto.

O vice-presidente da Câmara Municipal com o pelouro da Cultura, Pedro Cardoso, elogiou “o extraordinário desempenho dos músicos e coralistas, que fizeram deste concerto um momento de grande qualidade e beleza”. 

Foi mais um contributo para a afirmação desta reconstituição dos serões musicais de António Fragoso, tradição que se pretende perdure na memória, pois faz jus ao valioso legado musical do grande pianista e conceituado compositor”, adiantou.

O autarca enalteceu ainda a Associação António Fragoso pelo trabalho “absolutamente notável que tem desenvolvido em prol da cultura, e em especial para o conhecimento de Fragoso e da sua obra”, manifestando o desejo de que “este legado do ‘génio feito saudade’ constitua uma mais-valia para as gerações futuras”.

António Fragoso nasceu na Pocariça a 17 de junho de 1897, revelando desde cedo a sua vocação musical, desde os 6 anos de idade. 

No Porto, onde viveu entre 1907 e 1914, estudou piano com Ernesto Maia (1861-1924). Em 1914 matriculou-se no Conservatório Nacional, em Lisboa, tendo sido aluno de Marcos Garin, Tomás Borba e Luís de Freitas Branco.

Em 1916 realizou o seu primeiro concerto, totalmente preenchido por obras suas, e foi apontado pela crítica como “um dos mais poderosos talentos da sua geração”. No ano seguinte efetuou uma digressão nacional com o violinista Fernando Cabral. Em julho de 1918 terminou o curso do Conservatório com a classificação máxima, e a 13 de outubro, aos 21 anos, morreu na Pocariça, vítima da pandemia de gripe pneumónica. O músico projetava viajar nesse ano para Paris onde fora aceite na Schola Cantorum.

Do seu legado destacam-se os Prelúdios para Piano, Danças Portuguesas e Lieder, esta para canto, as peças de câmara e, como composição culminante da sua obra instrumental, o belo Noturno para orquestra.