A associação Intervenção e Resgate Animal (IRA), conhecida pelas suas ações de resgate e pelo estilo de atuação musculado, prepara-se para dar o salto para a política com a criação de um partido chamado “Protege”, previsto para ser formalizado no início de 2026. A informação foi avançada pela revista Sábado, que revela também os bastidores da evolução do grupo, as suas ligações políticas e a liderança centralizadora de Tomás Pires, fundador e figura dominante do movimento.
Nos últimos anos, o IRA passou de associação de resgate animal a organização com forte presença nas redes sociais e um estatuto quase institucional — reforçado quando a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) lhe concedeu autorização para usar luzes de marcha urgente, equiparando-o a forças de segurança e bombeiros. A decisão, entretanto revogada, gerou desconforto entre a PSP e a Liga dos Bombeiros, por conferir ao grupo um estatuto de autoridade.
Fundado em 2017, o IRA nasceu da união de praticantes de desportos de combate, polícias, militares e seguranças privados, assumindo desde cedo uma estética paramilitar e uma estrutura hierárquica rígida. Segundo fontes ouvidas pela Sábado, as primeiras ações do grupo foram marcadas por confrontos físicos e queixas de intervenções extrajudiciais, embora essas práticas “à moda antiga” tenham sido, alegadamente, abandonadas.
O líder, Tomás Pires — cujo nome completo é Armando Pires Tomás — comanda o grupo “com pulso de ferro” e gere a empresa IRA, Unipessoal Lda., criada em 2019. A associação, que sobrevive através de quotas, donativos e merchandising, é hoje uma estrutura complexa que inclui um centro veterinário e centenas de voluntários.
A futura transformação do IRA em partido político visa, segundo fontes próximas, “canibalizar o eleitorado animalista do PAN”, partido que atravessa uma fase de fragilidade interna. O novo projeto, “Protege”, promete lutar “pelo bem-estar animal e pela defesa dos mais vulneráveis”, mas ainda não definiu uma posição ideológica clara.
O grupo tem, contudo, sido alvo de críticas pelo estilo autoritário e pela linguagem tida como discriminatória, recordando movimentos estrangeiros como o Leviatã, da Sérvia — uma organização animalista ligada à extrema-direita.
As ligações políticas do IRA também têm gerado controvérsia. Cristina Rodrigues, antiga dirigente do PAN e hoje deputada do Chega, prestou assessoria jurídica gratuita ao grupo enquanto trabalhava no parlamento, o que motivou tensões internas no partido e uma reunião de “crise” em 2018.
Apesar das polémicas, o IRA mantém forte apoio público — conta com quase um milhão de seguidores nas redes sociais — e continua a afirmar que atua “no rigoroso cumprimento da legalidade”. Com o novo partido a caminho, o grupo quer agora consolidar o seu papel como movimento cívico, político e de negócios.