A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) volta a alertar para a urgência da construção da nova maternidade de Coimbra, uma vez que o processo de fusão dos dois centros hospitalares de Coimbra tem provocado graves constrangimentos na organização das equipas e na manutenção dos edifícios existentes.

“É urgente dar prioridade ao processo da construção da maternidade de Coimbra, pois os profissionais das duas maternidades da cidade estão a enfrentar difíceis e dramáticas condições para assegurar as melhores condições às mulheres grávidas, puérperas e seus bebés“, assinala Carlos Cortes. E acrescenta: “Este processo tem sido envolto em opacidade há demasiados anos, é necessário maior transparência e o envolvimento direto de quem trabalha nas maternidades no dia-a-dia. È importante o contributo de todos”.

O presidente da SRCOM alerta para as circunstâncias estruturais (edifícios existentes) e orgânicas, uma vez que as duas maternidades fazem agora parte do departamento de Ginecologia, Obstetrícia, Reprodução e Neonatologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. O atual polo A (Maternidade Daniel de Matos, na dependência dos Hospitais da Universidade de Coimbra) funciona nas atuais instalações desde 1974 enquanto que o Polo B (Maternidade Bissaya Barreto, sob a dependência do extinto Centro Hospitalar de Coimbra) funciona no atual edifício inaugurado em 1963. “O impasse do processo de construção da maternidade é inaceitável, pois as atuais instalações são exíguas e a necessitar de intervenção“, aponta.

Quanto aos recursos humanos, a situação é igualmente preocupante. Para a escala de urgência (24h00/7 dias), existem atualmente dificuldades em cumprir com as escalas de urgência/sala de partos, bloco operatório e internamento e nas unidades de cuidados intensivos neonatais. “O envelhecimento da equipa médica e as dificuldades que têm existido há vários anos na contratação de novos especialistas provocaria constrangimentos gravíssimos não fosse a entrega e a dedicação de todos os profissionais das duas maternidades. Mas esta situação não é comportável por muito mais tempo“, explica.

As maternidades de Coimbra prestam cuidados intensivos a recém-nascidos de qualquer idade gestacional e dão resposta e acolhem grávidas de toda a zona Centro, região onde ocorrem 12 mil nascimentos por ano, 4200 dos quais em Coimbra em 2021, e mais de 4500 em 2020, ano em que se registou uma taxa de prematuridade de 8.8% (Polo A) e 9.8% (Polo B).

Na atual conjuntura, a Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos volta a alertar para a urgência da construção da nova maternidade de Coimbra. “É importante que os deputados que serão agora eleitos priorizem esta questão, incutam celeridade no início do processo e ponham fim a este atraso vergonhoso que prejudica mães e crianças“, exorta o presidente da SRCOM.

Recorde-se que, ao longo das últimas décadas e no âmbito da referenciação materno-fetal/infantil, Coimbra tem dado um contributo inestimável nesta área. Carlos Cortes afirma, porém, “neste momento, para se  conseguir manter os rácios adequados da prestação dos cuidados a grávidas e bebés em risco, há médicos a cumprir escalas desumanas, um esforço incansável de quem se encontra no limite e que enfrenta, ano após ano, a diminuição do número de médicos, por aposentação“, afirma.

Apelando a intervenção nesta matéria aos próximos representantes da região Centro na Assembleia da República, Carlos Cortes assinala ainda que “a excelente resposta nos cuidados intensivos neonatais está a regredir, dada a escassez de recursos humanos para responder às crescentes complexidades dos bebés de risco”. É um dos muitos problemas que enfrentam as atuais duas maternidades. “Os últimos anos têm sido um desafio para todos os profissionais e utentes. As maternidades existentes estão a degradar-se, os profissionais aguardam, precisamente, a construção de uma única maternidade, de modo a acautelar a resposta assistencial às grávidas, mães e crianças num ambiente sereno“, lembra.

Neste sentido, a SRCOM apela a que “esta matéria seja tratada com prioridade e com total transparência, tendo em conta o superior interesse das mulheres e das crianças, em respeito pelos excelentes profissionais que enfrentam enormes dificuldades para prestar o maior conforto possível às utentes das maternidades existentes”.

Há vários meses que não há qualquer desenvolvimento do projeto que se estima que esteja concluído em 2024. “É necessário­­ investir no corpo clínico, nos equipamentos e no novo projeto“, apela Carlos Cortes.