A Feira Medieval de Coimbra começa hoje e prolonga-se pelo fim de semana, numa verdadeira viagem à Idade Média. Após um interregno de três anos, a Câmara Municipal (CM) de Coimbra recupera uma das mais antigas feiras medievais do país, que regressa ao centro histórico, ganha um novo formato e uma duração mais alargada. São três dias de regresso ao período medieval que começam já amanhã, com a Ceia Medieval, que se vai realizar no claustro da Sé Velha. No sábado e no domingo, vai haver animação de época numa área que se estende desde a Rua do Norte (junto à Casa dos Melos), ao Largo da Sé Velha, ao Quebra-Costas e até ao Arco de Almedina.
O mote é a “crise dinástica de 1383/85, as razões que lhe assistem, as Cortes de Coimbra e a aclamação de D. João, Mestre de Avis, Regedor e Defensor do Reino, como Rei de Portugal, poucos meses antes da Batalha de Aljubarrota”. É neste cenário, que a CM de Coimbra vai realizar mais uma edição da Feira Medieval de Coimbra, de 21 a 23 de julho. A Feira é organizada pela autarquia, que conta com a parceria da Diocese de Coimbra, da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) e dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC). O evento conta, ainda, com o apoio da Junta de Freguesia dos Olivais e da Fundação INATEL.
A reconstituição da época medieval começa na sexta-feira, dia 21 de julho, nas escadas da Sé Velha onde, a partir das 19h00, a Companhia Almanach dá as boas-vindas aos comensais, com uma encenação e trovas sobre a aclamação de D. João, Mestre de Avis, Defensor e Regedor do Reino, como Rei de Portugal, nas Cortes de Coimbra. A receção dos comensais segue, depois, para o claustro da Sé Velha, onde vai decorrer o Banquete Régio, às 20h00. A Ceia Medieval vai ser confecionada e servida pelos SASUC, sob coordenação geral de Mauro Rodrigues. Note-se que a Sé Velha de Coimbra é um edificado medieval, imprimindo uma maior relevância e rigor histórico a esta recriação e valorizando, em simultâneo, o património classificado da UNESCO.
O perímetro do evento foi alargado relativamente ao das edições passadas. Assim, no sábado, dia 22 de julho, entre as 9h00 e as 24h00, a Rua do Norte, o Largo da Sé Velha (epicentro do evento), o Quebra-Costas e o Arco de Almedina transformam-se num cenário “ao vivo”, permitindo aos visitantes “entrar” na atmosfera da época medieval, pelo contacto com os sabores, os aromas, os ruídos, os ofícios, a animação e o modo de vestir, recriado por dezenas de figurantes.
No campo da figuração e da animação, em particular, desempenha um papel importante a Companhia Almanach, ao nível da indumentária, de objetos, de acessórios e de instrumentos que revelam o espólio patrimonial e humano que a Companhia associa às suas recriações históricas. Nesta viagem ao período medieval procura-se reproduzir o ambiente mercantil e a sociabilidade da época, promovendo-se, em simultâneo, a diversão e o lazer que a dinâmica de animação do evento oferece aos visitantes.
Cumpre referir, também, o papel primordial nesta iniciativa do envolvimento comunitário do tecido associativo do concelho e da região de Coimbra, destacando-se, pela primeira vez, o trabalho que o Município está a desenvolver no sentido de chamar à Feira Medieval a participação do tecido comercial localizado na área envolvente do evento, no espírito da recriação histórica, através da oferta e decoração.
Iniciando-se às 9h00, com a leitura do Edital de Abertura e Bênção do Abade, a abertura do mercado acontece às 10h00, seguindo-se uma visita do Meirinho, do Almotacem e do Almoxarife às bancas dos mercadores. Às 11h00 arranca o cortejo nobre. Os Cavaleiros de D. Nuno Álvares Pereira apregoam o recrutamento para as lides da guerra e os homens bons do concelho acorrem a listar-se, a partir das 11h30.
O período da tarde será preenchido com vários quadros de animação permanente, a reposição de figuras e quadros da época onde não faltarão saltimbancos, jograis e trovadores e os habituais comeres fartos e beberes frescos nas tabernas da Feira. Às 12h00 tem início a mostra de armas dos peões e infanções, bem como o adestramento de piques e varapaus. A Leitura da Carta de Privilégio acontecerá às 14h00, seguindo-se, às 15h00 um quadro de época em que o Abade dá isenção e párias aos mouros conversos e aos cativos alforros. Pelas 16h00 há lugar a bailias e folguedos esperando-se, também, na Rua Ferreira Borges, às 16h30, um apontamento de acrobacias. Às 17h00 dá-se o anúncio dos banhos para o esposamento de D. João com Dona Filipa de Lencastre e, às 18h00, Nuno Álvares Pereira recebe a visita do Abade de Alcobaça para se inteirar dos preparativos da carriagem.
Já o final da tarde, a partir das 19h00, será marcado pela oferta de acepipes e manjares tradicionais, acompanhados pelas bailias e danças, às 20h00. Noite dentro, pelas 21h00, haverá uma exortação à batalha que se avizinha e, às 22h00, o público poderá assistir ao teatro de fogo “o amor cortês”. A animação continua com trovadores, jograis e menestréis, pelas 23h00. A encerrar o segundo dia da Feira Medieval, às 24h00, será feita uma ronda do Almotacem e do Almoxarife.
No domingo, dia 23 de julho, o evento tem início às 9h00, com uma arruada pelo Burgo e Auto de Abertura do Mercado. Duas horas depois (às 11h00) entra em cena um torneio de armas e treino dos homens de armas. Às 12h00 haverá uma demonstração de falcoaria e adestramento de cetraria e pelas 13h00 voltam a estar disponíveis ao público os comeres saborosos e beberes sequiosos. Um dos pontos altos do evento, o Cortejo Régio, acontece às 14h00, ao qual se seguirá (às 15h00), um concerto, na escadaria da Sé Velha, pelo Duo Arvales. Momento esperado às 16h00 é a nomeação, por D. João de Portugal, de D. Nuno Álvares Pereira como Condestável do Reino. Pelas 17h00 chegam ao recinto da Feira Medieval novas de Leiria e uma hora depois (às 18h00) recria-se o desacordo de D. João de Portugal com D. Nuno sobre os andamentos para a batalha que se avizinha. Às 18h30 será hora de dar agasalho aos peregrinos de Santiago de Compostela e, até que a noite caia, às 19h00, partem os homens de armas para a batalha.
Durante toda a Feira Medieval, vai estar patente, no Armazém da Sé Velha (na rua dos Coutinhos, 16-18, loja de velharias/antiguidade) uma exposição fotográfica em homenagem ao Mendigus Basilius, uma figura que se tornou uma referência nas várias edições das feiras medievais de Coimbra. Joaquim Basílio associou-se a este evento durante muitos anos, recriando a figura do leproso ou do pedinte. O dinheiro que adquiria era entregue a várias instituições de caridade locais. Joaquim Basílio faleceu antes da pandemia, mas a sua pessoa ficou na memória de todos, não só pelas suas figurações, mas pelo espírito altruísta que empregava nas suas iniciativas. A exposição pode ser visitada na sexta-feira das 11h00 às 19h00, no sábado das 13h00 às 23h00 e no domingo das 11h00 às 20h00. A entrada é livre.
E fica, assim, concluído o programa da 28ª recriação da Feira Medieval de Coimbra, um evento que, após três anos de interregno, continuará a marcar a agenda cultural de Coimbra.