A comunidade das Silveiras da Serra da Lousã e a reserva indígena brasileira do Rio Silveira vão, em junho, celebrar um acordo de geminação cultural, anunciou hoje a Cooperativa Arte-Via.
“Através deste auspicioso confluir de rios irmãos, procuramos estreitar os laços fraternais entre comunidades das duas margens do Atlântico com diferentes culturas ancestrais, mas que falam a mesma língua”, justificou a cooperativa da Lousã, que é promotora do Festival Literário Internacional do Interior (FLII) — Palavras de Fogo.
Segundo a cooperativa, a assinatura deste acordo, que se realizará no dia 15 de junho, “marca o início do primeiro processo de geminação entre comunidades autóctones do Brasil e de Portugal, mais de 500 anos depois da chegada dos portugueses, em 1500, ao litoral do futuro maior país lusófono”.
“A dois meses da comemoração dos 202 anos da independência do Brasil, as Silveiras selam o início de uma aproximação que passará por um trabalho cooperativo em diferentes áreas culturais, designadamente das artes e literatura”, explicou.
A Cooperativa Arte-Via recordou que, “há cerca de 100 anos, os habitantes da Silveira de Cima e da Silveira de Baixo, bem como dos vizinhos Salgueiro e Pé da Lomba, escorraçados pela florestação dos baldios imposta pelo Estado, encetaram a emigração transatlântica em busca de melhores condições de vida”.
A emigração para os Estados Unidos e para o Brasil ocorreu “sobretudo para a Baixada Santista, onde reside a maior comunidade de antigos moradores da Serra da Lousã em terras de Vera Cruz”.
“Este processo dramático culminou na perda total da população daqueles e de outros lugares agropastoris da Serra da Lousã, em finais de 1960”, acrescentou.
O protocolo de cooperação entre as duas entidades homónimas de Portugal e Brasil será celebrado na Silveira de Baixo, junto à capela do São Lourenço, no concelho da Lousã, distrito de Coimbra.
“Com o aval do cacique, líder tradicional do Rio Silveira, o acordo de geminação é celebrado entre esta aldeia guarani, no limite dos municípios de Bertioga e São Sebastião, no estado de São Paulo, e a São Lourenço — Associação de Naturais e Amigos da Silveira de Cima, Silveira de Baixo, Salgueiro e Pé da Lomba, com sede na Silveira de Baixo”, explicou a cooperativa.
Antes da assinatura, haverá música, dança e poesia pelas Filhas da Terra (Claúdia Almeida, Eva Potiguara, Ju Cassou e Vanessa Ratton) que protagonizam um espetáculo único baseado no álbum biográfico “Guerreiras da Ancestralidade”, da autoria do coletivo Mulherio das Letras Indígenas, que em 2023 foi o vencedor do Prémio Jabuti, na categoria Fomento à Literatura.
O espetáculo está integrado no programa da sétima edição do FLII — Palavras de Fogo, organizado por um consórcio coordenado pela Arte-Via que reúne autarquias, empresas e outras instituições de nove municípios dos distritos de Coimbra e Leiria e que decorrerá de 14 a 17 de junho.