Foi por meio de comunicado que a concelhia do Partido Socialista reagiu à desagregação dos deputados Carla Lima e Pedro Reis, que ocorreu na última assembleia municipal (24 de junho).

As motivações dos dois deputados foram comunicadas ao presidente da assembleia municipal que foi transmitida em direto pela Mundialfm em livestream. Mais tarde replicadas pelos próprios nas redes sociais.

Carla Lima emitiu a seguinte declaração;

DECLARAÇÃO DE SAÍDA DE AGREGAÇÃO AO GRUPO MUNICIPAL

Exmo. Senhor Presidente Assembleia Municipal, Senhores Deputados Municipais, Executivo e demais público presente, eu, Carla Isabel Pedroso de Lima da Conceição venho informar V/ Excelências da minha desagregação do grupo municipal do PS, constituído no início deste mandato, pós-eleições, e nesta assembleia municipal. Nesse sentido, ficarei como independente que sou, sem agregação a nenhum grupo, mas em exercício do mandato a que fui eleita.

As minhas candidaturas, e eleições, desde há 12 anos para cá, ainda que sob projetos eleitorais com apoio do PS, foram enquanto independente e sob a premissa de servir a causa pública, norteando-me por princípios éticos e do superior interesse dos munícipes, os poiarenses.

Apesar de todo o reconhecimento que posso fazer quer na gestão de dívida e pagamento a fornecedores, na dinamização sociocultural, no investimento em candidaturas e projetos europeus, na inovação e criatividade e, até, na juventude e desporto (em contraposição àquilo que vi no exercício do executivo anterior), o atual Presidente da Câmara, assume e mantém uma postura presidencialista, centralizada na sua figura e na concentração de poderes. E se, até determinada altura poderia compreender esse posicionamento como defensivo face a descalabro financeiro, intempéries e catástrofes, bem como, do facto de este ter aparecido na política local dentro da dinâmica que já havíamos construído, podendo sentir-se mais isolado ou deslocado, intimidado até, passado todo este tempo, isso já não se justifica no meu ponto de vista democrático. Por princípio, eu defendo o trabalho em equipa, sob forte liderança, mas na pluralidade construtiva de ideias, isso implica aceitação de diferenças, conflitos de ideias e, saber ouvir e dispor-se a trabalhar em conjunto.

Ainda assim, pretendia terminar este mandato, integrada no grupo municipal com que me candidatei, com o presidente Assembleia Municipal que me convidou, e que muito respeito. No entanto, nos últimos tempos, a que as eleições e as ambições pessoais a ela (e às seguintes) não são alheias, revelou-se uma enorme falta de carácter de alguns elementos que não se coaduna com os meus princípios e formas de estar, mais não seja pela postura cúmplice e de anuência silenciosa, que não pode ser menos culpabilizada que aqueles que o praticam.

No passado, não nos podemos esquecer das críticas ferozes que se fez a toda a bancada do PSD por cumplicidade e anuência de olhos fechados, a todos os atos do executivo, e que assim permitiram toda a governação que reprovámos e reprovamos, tal como os poiarenses massivamente depositando confiança na diferença em nós.

Fui louvada quanto ao meu desempenho político quando convinha, mas criticada sempre que me opus ou fiz crítica àquilo que não interessava, pese embora muitas vezes me tenha sido dada razão (caso contrário, certos pontos não teriam sido alterados ou retirados de votação em assembleia municipal). Mas, no limite, ser acusada de deslealdade, como fui, por ter amigos de outras bancadas e por tido convites para ingressar em listas eleitorais sob o apoio de outros partidos, é no mínimo ridículo. A democracia faz-se, não por “clubes”, mas por se colocar ao serviço do bem comum, dos poiarenses no caso. Se nos posicionarmos assim, podemos ter amigos de qualquer partido ou clube, mesmo que tenham diferentes ideias das nossas, como muitas vezes me acontece, e que só acrescenta, não retira nada. Não há só um lado certo, e é necessário dispormo-nos nessa humildade para criarmos melhores ideias, projetos, pensamentos e desenvolvimento. Por outro lado, eu nem nunca fui filiada, bem como sem ter qualquer obrigação, notifiquei, a maioria do meu grupo municipal, dos convites que recebi. Porque senti que eticamente o deveria fazer. Neste sentido, acredito que teria de ter havido melhor argumentação para sacudir pessoas ou revelar vontades de desapreço do que estas narrativas.

Por outro lado, as movimentações políticas, obscuras, passando por cima dos direitos e dos mais elementares preceitos do caracter moral e ético, para fins pessoais e de pequenos grupos, com anuência geral, apesar da indignação surdina, que mais não é do que cumplicidade e validação dessas ações, é algo que não consigo ultrapassar. Seja com pessoas que me sejam próximas, seja com qualquer pessoa, mesmo de alguma que eu desgoste. Há limites que todos os seres humanos devem ter sobre si próprios e sobre os outros, e esses são os meus limites à aceitação dos outros enquanto diferentes.

No início do meu primeiro mandato, no final de uma reunião de AM, onde fui altamente insultada e enxovalhada, com anuência geral da bancada da maioria, o Presidente em exercício questionou-me à saída porque ia tão chateada? Dizendo-me que, ali dentro, as coisas eram assim, mas cá fora eramos todos amigos. Ao que eu lhe respondi prontamente: “eu sou a mesma Carla aqui dentro que sou lá fora. Eu não tenho terrenos, lojas, dependências ou ambições políticas em poiares, pelo que, não preciso disto para nada ao contrário de outros. E, no dia em que eu me sentir ISTO [com polegar e indicador sinalizei um bocadinho pequeno] parecida consigo ou convosco, eu salto fora!” Nesse sentido, e passados cerca de 12 anos, aqui estou eu, a sentir que se “não salto fora”, pelo menos, deste grupo municipal, corro o risco de já não conseguir fazer diferença como também de me tornar igual, mais não seja por estar no conjunto. E eu não quero isso para mim, nem foi a isso que me comprometi, a cada campanha, junto das pessoas que em mim, reiteradamente, confiaram e confiam o seu voto.

Custa-me profundamente, o desapontamento e a desilusão com algumas pessoas, mas principalmente com muitas das que já aqui não estão, que se foram afastando [talvez fosse bom refletir sobre isso] ou que já fizeram a sua parte há mais tempo. Tempo onde ninguém queria ser oposição. Onde se deu suor e perca pessoal, e onde não cheirava possibilidade de ascensões pessoais ou ambições populares. A essas pessoas eu devo o compromisso e a honra do que dedicaram, e sentir que tudo quanto lutaram, e eu lutei, pode ir-se embora sem semente dar fruto. Ver que os princípios e as ideias democráticas que imaginámos poderão deixar de seguir o caminho da concretização, dói bastante. Porque os eleitores não são cegos, saberão avaliar isso, mais tarde ou mais cedo, melhor do que ninguém. Por esses, o que me resta é não resignar, cumprir o mandato a que me comprometi, até ao final, mas assumindo tudo isto, publicamente e na desagregação ao grupo. Demonstrando que se duvidas havia quanto à minha lealdade, ela é clara: é com os poiarenses e com os princípios éticos. Sem qualquer ambição política que me impeça de agir desta forma desconfortável.

Um antepassado de família, do lado da minha avó materna, como tantos que eu guardo como Exemplos, foi há séculos atrás “do contra” (talvez tradição de família) ao poder vigente. Acabou preso e morreu na cadeia, onde deixou gravado na pedra: “Um Lima parte, mas não verga!”.

Aqui estou eu, quebrada, mas sem vergar!

Vila Nova de Poiares, 24 de junho de 2021

Carla Pedroso de Lima

Deputada Independente na Assembleia Municipal de Vila Nova de Poiares

Já o deputado Oedro Reis alega;

DECLARAÇÃO DE SAÍDA DE AGREGAÇÃO AO GRUPO MUNICIPAL

Exmo. Senhor Presidente Assembleia Municipal, Senhor Presidente de câmara, vereadores.

A minha motivação maior, ao dar corpo às lista do PS que concorriam à Camara Municipal de Vila Nova de Poiares, assentava na necessidade da mudança pela democratização com igualdade de direitos para todos os Poiarenses, aumentar a notoriedade do concelho de V N Poiares, promovendo as suas gentes e promover desenvolvimento económico, através do seu tecido comercial, empresarial e não menos importante aumentar a sua notoriedade gastronómica e o seu artesanato.

Volvidos 8 anos, sinto que a força da mudança que era mote da candidatura acomodou-se, para alem da restruturação da divida que herdou do Município, nada mais de relevante foi feito em prol do desenvolvimento local.

Este Executivo está em passo acelerado, em direção ao monopólio gerado através das décadas de governação do Presidente Marta Soares. Voltámos arrumar os cravos vermelhos, esperando nova mudança.

A economia do Concelho estagnou, não sendo criando condições para fixação de novas empresas:

O efeito atrativo para captar novas empresas, através de incentivos à sua fixação, não foi gerado, sendo o nosso parque industrial preterido por outros limítrofes que melhor souberam acolher tecido empresarial.

As redes rodoviárias, não tiveram evolução, aliás deixamos cair a ligação ao IP3, sem que de forma direta e publica o Executivo Camarário interpelasse o Governo, apenas temos Governo para as inaugurações e aberturas de certames

Pela dinamização e modernização do Comercio local, nada foi feito. Fico triste ao olhar para Concelhos vizinhos, onde o Município através das Associações Empresariais deu uma clara alavancagem ao comercio, criando plataformas de e-commerce e sistema permanente de distribuição, “uber” local.

Ficamos apenas pelo show da Poiartes na TV, não desenvolvendo economia local e os seus produtos endógenos que tanto de fala, mas onde estão, para além do barro preto?

O projeto megalómano do mercado, deu lugar a umas paredes pintadas e passeios com alcatrão a serem pitados.

A economia estagnou e a notoriedade do Concelho reduziu para níveis nunca dantes vistos, permitindo que as encomias dos Concelhos vizinhos saíssem sobre maneira beneficiadas, com a nossa bandeira gastronomia, a chanfana.

Puxamos para a propriedade da Camara o troço da N2 a troco de uma pintura de alcatrão no chão. Estamos a hipotecar o Município com futuras obras estruturantes de conservação, sendo esta a rede rodoviária de grande tráfego de veículos pesados, isto para não questionar a natureza e eficácia de tantas outras obras com indolo eleitoralista.

Temos um Presidente que apenas se houve a si mesmo e reage mal quando confrontado com sugestões dos seu Munícipes.

Por estas e outras razões, tomo a decisão de sair da bancada do partido socialista.