Uma investigação, liderada pela Universidade de Coimbra, evidencia que os efluentes industriais não são os que apresentam maior contribuição para a contaminação por microplásticos quando comparados com efluentes domésticos provenientes de Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR’S) municipais. Os investigadores envolvidos estão a desenvolver um bioprocesso à base de resíduos agroflorestais para a remoção destas partículas.

Este estudo, que tem como principal objetivo perceber qual o potencial de contaminação proveniente de efluentes industriais após tratamento nas estações de tratamento interno das empresas, está a ser desenvolvido por uma equipa de investigadores do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) no âmbito do projeto “Make water cleaner”.

De acordo com Solange Magalhães, investigadora do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF) do DEQ, «já foi possível identificar qual a composição dos principais microplásticos encontrados, sendo que o mais abundante nos efluentes das diferentes indústrias é o polietileno tereftalato (PET), um polímero largamente usado em diferentes indústrias».

Verificou-se ainda que «as propriedades físico-químicas dos microplásticos encontrados indicam que, na sua maioria, estes apresentam carga de superfície negativa, pelo que os biofloculantes que estão as ser desenvolvidos e que foram obtidos a partir de resíduos agroflorestais e de biomassa proveniente de espécies invasoras, promovem uma eficiente floculação e, posterior, remoção dos efluentes», explica a investigadora da FCTUC, acrescentando que a floculação é uma etapa essencial no tratamento tradicional de efluentes, muito utilizada nas ETAR’s.

Dado o elevado consumo de plásticos e o pouco cuidado por parte dos utilizadores em fazer uma correta separação e encaminhamento para reciclagem, a contaminação do meio ambiente por microplásticos tornou-se num problema emergente em todo o mundo. Portanto, para a equipa da FCTUC, «todas as tecnologias que permitam minimizar essa problemática têm elevado interesse a nível ambiental e social. A valorização de um resíduo de biomassa e o desenvolvimento de um produto que previne a contaminação ambiental, evitando o uso de compostos de origem sintética, tem também um alto impacto», conclui.

O projeto “Make water cleaner”, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), conta também com a participação de investigadores do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) da Universidade do Algarve, e do Centro de Investigação FSCN da MidSweden Univeristy, na Suécia.