“Francamente, gostaria que se abrissem as escolas, mas acho que é cedo (…). Já morreu gente a mais. Foram 16.000 pessoas que morreram por causa da covid-19 [16.317 à data de domingo] e vão morrer mais. Acho que é cedo. Desejo que lá para maio se possa voltar a uma situação melhor. Abrandar tudo só porque as coisas abrandaram um bocadinho não me parece bem”, referiu Rui Sarmento e Castro.
O professor de doenças infeciosas no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, considerou que as medidas do Natal foram “frouxas” e sobre a passagem de ano diz que se admitiu “muitas festarolas com pessoas a juntar-se às dezenas”.
“O resultado deu numa segunda vaga que já vinha a crescer e que de um momento para o outro estourou completamente. Estourou no sul por questões culturais ou porque não sentiram bem a primeira [vaga] que foi mais forte cá em cima. Acho que as pessoas facilitaram muito” lamentou.
Em relação ao regresso às escolas, tema que já motivou uma carta aberta divulgada na semana passada, na qual dezenas de especialistas, de diversas áreas, procuram a reabertura de creches e do pré-escolar este mês, seguido do regresso faseado do 1º e 2º ciclos, Rui Sarmento e Castro analisou o que diz ser “o real perigo”.
“Francamente, são as crianças de 5 anos que transmitem o vírus às famílias? Não. Também lhes chega, mas aparentemente a infeção não é tão frequente nessas fases. Mas abrir escolas implica pais a levar os filhos, viagens em autocarro ou metro”, apontou.
Rui Sarmento e Castro analisou o que já se sabe sobre as variantes da covid-19 e, em jeito de alerta, sublinhou que “ainda não se sabe muito, nem mesmo o comportamento de algumas perante as vacinas” e que “poderão existir muitas mais no mundo”.
“Em Portugal temos uma percentagem elevada da variante inglesa. Não tínhamos na primeira vaga. Isso também justificou um pouco a explosão nas últimas semanas. Temos casos identificados da variante brasileira. Não terá ainda expandido, mas se expandir — e parece que a transmissibilidade é alta — vamos ter problemas. A da África do Sul não chegou cá ainda, mas parece ser altamente transmissível. E há muitíssimas mais variantes”, afirmou.
“É feita pouca testagem. Já deviam fazer mais testes desde o princípio. Defendo a testagem, mas com testes fidedignos, com a metodologia PCR, zaragatoa. É praticamente infalível. O teste de antigénio só é positivo mais tarde. Pode ajudar no diagnóstico, mas mais tarde do que a zaragatoa”, referiu.
Para Rui Sarmento e Castro, se existe um Plano Nacional de Vacinação por que não criar um criar um Plano Nacional de Testagem.
“Este vírus veio ficar cá. Devemos estar cientes de que vai manter-se e é preciso preparar o futuro”, frisou.