O empresário Fernando Tavares Pereira, após o almoço anual de convívio do Grupo Tavfer em Celorico da Beira, defendeu que a aposta do Estado deve passar por incentivos que levem as pessoas a regressar ao trabalho e o fim dos subsídios para quem tem condições e propostas para voltar ao activo.
“O Poder Central tem de tomar medidas urgentes para facilitar a vida às empresas e populações instaladas no interior e criar condições para atrair novos investimentos e mais residentes. E isso só se consegue com medidas concretas e não apenas com retórica”. Esta é a visão de Fernando Tavares Pereira. O empresário, que promoveu o encontro anual dos colaboradores do seu grupo, não tem dúvidas que sem uma aposta forte do Governo será impossível travar a desertificação do interior e aproveitar as potencialidades destas regiões.
“Tem de existir uma descriminação positiva, criando os incentivos necessários para as empresas, mas também para que as pessoas se possam instalar nas regiões de menor densidade populacional. A redução dos encargos com a segurança social por parte das empresas e um desconto directo de dois por cento no IRS das famílias são medidas absolutamente necessárias”, conta, explicando que quem investe nestas regiões tem custos de logística acrescidos, seja pela ausência de vias de comunicação ou pelas portagens que são cobradas. “Tudo isto são custos pagos pelas empresas e habitantes do interior”, enfatiza, criticando ainda a forma como tem sido tratada a zona Norte da serra da Estrela.
Fala ainda na necessidade de concluir o IC6, IC7 (ligará Oliveira do Hospital a Fornos de Algodres, dando continuidade ao IC 6), IC37 (unirá as cidades de Viseu e Seia) e uma aposta na Estrada Nacional 342 (Soure a Arganil). “São vias necessárias para desenvolver o interior”, conta Fernando Tavares Pereira, revelando que não escolheu Celorico da Beira para juntar centenas de colaboradores do seu grupo, provenientes do Algarve até ao Minho, por mero acaso. “Fiz esta escolha porque é importante que as pessoas de todo o pais visitem as terras do interior. Já chegam os nossos políticos para as deixar cair”.
“Não se pode continuar a investir na subsidiodependência. Temos de integrar as pessoas no mercado de trabalho”
Quando se pergunta a Fernando Tavares Pereira como vê a situação em que se encontra o país, a resposta surge rápida e irónica. “O país nunca esteve tão bem como agora. Dá tudo para não se fazer nada. O Estado leva a comida a casa, dá um salário. Em vez de fomentar a integração no mercado de trabalho, fomenta-se a subsidiodependência”, atira. Não vale isto por dizer que este empresário seja contra os apoios estatais. Pelo contrário. Fernando Tavares Pereira defende mais apoios para aqueles que “realmente precisam”. “Há pessoas às quais o Estado tem mesmo a obrigação de ajudar muito mais do que aquilo que ajuda actualmente. Mas esses recebem muitas vezes pouco mais de 200, enquanto aqueles que não querem fazer rigorosamente nada recebem 400, 500 ou 600 euros. Isto é subverter por completo a justiça social. É revoltante”, sublinha.
Do meio milhão de pessoas que estão no desemprego, reinserção e POCs, Fernando Tavares Pereira estima que cerca de 80 por cento destas pessoas tem capacidade para trabalhar. “Todos sabemos que há pessoas a viver de subsídios que podiam trabalhar, istro numa altura em que as empresas sentem dificuldades para encontrar mão de obra. Porque é que não assumimos políticas de verdadeira integração dessas pessoas no mercado de trabalho? O dinheiro é gasto em pseudoformações que não têm qualquer interesse para a economia real e em apoios a quem pode perfeitamente trabalhar. Se continuarmos assim, o nosso país não tem viabilidade”, acusa, referindo que as empresas portuguesas são obrigadas a recrutar mão de obra no exterior, obrigando as empresas a gastar muito tempo com a sua formação e o país a ver sair divisas para o estrangeiro. E depois, ainda pode ser pior, porque essas pessoas podem optar por ir para outro país que lhes oferece melhores condições, beneficiando da formação que lhes foi facultada”, diz.
A aposta do Estado devia passar, segundo o líder do Grupo Tavfer, no incentivo para as pessoas ingressarem no mercado de trabalho, contribuindo para a riqueza nacional. Uma das medidas deveria passar por aliviar a carga da segurança social junto das empresas e outra passaria por um desconto directo no IRS das famílias. Esse dinheiro em vez de ir em impostos seria redireccionado para o aumento dos salários. Seria a forma de aumentar o rendimento das pessoas e criar toda uma outra dinâmica económica que o país precisa, com melhores salários e mais apoios sociais a quem de facto necessita”, concluiu.
“O bem-estar dos colaboradores é fundamental para a saúde das empresas”
Fernando Tavares Pereira faz questão de conviver directamente com os seus colaboradores e este ano, depois do COVID-19, voltou a reactivar o almoço que anualmente reúne os colaboradores do grupo Tavfer. Desta vez em Celorico da Beira. Juntando funcionários provenientes do Algarve ao Minho. “Desde que comecei a trabalhar por conta própria há 48 anos que anualmente nos juntamos todos. Na altura, eramos dez pessoas, depois passou a 15, depois a 20 e já chegámos a ser duas mil pessoas neste convívio anual”, explica o empresário vincando que gosta de estar com os seus colaboradores, actualmente cerca de 600.
“Fazem parte da família e o seu bem-estar é fundamental para todas as empresas do grupo. São os funcionários que fazem a empresa. A entidade patronal colabora e ajuda. E sem esta ligação não se conhece o sucesso”, explica Fernando Tavares Pereira que diz ter funcionários há cerca de 40 anos no grupo. “E todos aqueles que estão há mais de 15 anos connosco, têm casa própria. É sinal que a empresa os ajudou a fazê-la e eles ajudaram a fazer a empresa. Há uma reciprocidade”, diz sem esconder uma ponta de orgulho na relação existente entre os colaboradores e entidade patronal. O que não suporta é funcionários que digam mal da empresa. “Aquele que faz isso que se demita, que se vá embora e deixe os colegas em paz. Se diz mal da empresa, diz mal dele, dos colegas e da entidade patronal. Diz mal de tudo. Esses não fazem falta nenhuma”, sublinha.
Com o abrandar da pandemia da COVID-19, Fernando Tavares Pereira espera uma recuperação económica, embora o contexto internacional, com a invasão da Rússia à Ucrânia, teime em dificultar as coisas. “Temos os problemas como outras empresas. Estamos num período em que há falta de matérias primas, dificuldades de acesso ao crédito e sectores nos quais não há trabalho”, conta. Mas deixa uma garantia aos elementos que trabalham no grupo TAVFER: ninguém vai para casa desde que esteja disposto a trabalhar. Pode é existir uma transferência para outra área dentro do grupo. “Quem quiser trabalhar está bem connosco”, conclui.