Um dos principais líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), a mais perigosa organização criminosa do Brasil, foi detido em Cascais, onde vivia discretamente num condomínio de luxo. Ygor Daniel Zago, conhecido como “Hulk”, de 44 anos, é apontado como um dos maiores traficantes brasileiros e um dos cabecilhas da estrutura transnacional do grupo.
A Polícia Judiciária deteve o suspeito e a mulher, Fernanda, de 40 anos, por alegados crimes de associação criminosa, corrupção e branqueamento de capitais. Segundo as autoridades, “Hulk” geria operações ilícitas e lavava milhões de euros provenientes do narcotráfico e da fraude de combustíveis no Brasil, utilizando Portugal como base de operações.
A captura decorreu de forma discreta, sem margem para reação por parte do casal, que vivia numa casa arrendada por 10 mil euros mensais num condomínio privado de Cascais. Ygor Daniel Zago já tinha sido condenado, em 2014, a 29 anos de prisão no Brasil, por envolvimento num esquema transatlântico que ligava o PCC à máfia dos Balcãs. Apesar disso, só viria a ser detido em 2021, em São Paulo, mas acabou por aguardar em liberdade a decisão de recurso.
Foi durante esse período que, em 2023, terá passado a dedicar-se ao “comércio de combustível adulterado com metanol, corrupção de funcionários públicos e ocultação de bens e fundos ilícitos”, segundo a PJ. Nesse mesmo ano, a apreensão de 30 mil litros de metanol permitiu desvendar o esquema e aprofundar a investigação que agora culminou na sua detenção.
Segundo o Jornal de Notícias, Zago terá fugido do Brasil através do Peru, seguido para Itália e instalado-se em Portugal em maio deste ano. Fernanda juntou-se ao marido quatro meses depois, e na sua conta bancária foram identificados fundos ilegais relacionados com o PCC.
A 27 de outubro, o suspeito foi sinalizado através de uma Red Notice da Interpol, tornando-se alvo de busca internacional. Após quase uma década a evitar a justiça, vai agora ser presente ao Tribunal da Relação de Lisboa para aplicação das medidas de coação.
Portugal no radar do PCC
Portugal é o país europeu com maior presença de membros do PCC, cerca de 87, segundo dados do Ministério Público de São Paulo divulgados este ano. Destes, 29 estarão infiltrados no sistema prisional português, considerado um local estratégico de recrutamento pelo grupo.
Fundado em 1993 e liderado por Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola — atualmente preso e a cumprir mais de 300 anos de pena — o PCC transformou-se numa autêntica multinacional do crime, com cerca de 20 mil membros. Controla grande parte do mercado de combustível adulterado no Brasil e mantém ligações a redes criminosas internacionais, incluindo a máfia dos Balcãs.
Entre os seus líderes destaca-se também André de Oliveira Macedo, “André do Rap”, em paradeiro desconhecido e que terá estado escondido em Portugal durante um ano. Apenas quatro países — Paraguai, Venezuela, Bolívia e Uruguai — têm mais elementos do PCC do que Portugal.
A detenção de “Hulk” representa, segundo as autoridades, um golpe significativo na estrutura do grupo em território português, mas as investigações prosseguem para identificar outras ligações e eventuais cúmplices instalados no país.