A investigadora da Universidade de Coimbra (UC), Vanessa Coelho-Santos, conquistou uma bolsa Starting Grant do Conselho Europeu de Investigação (ERC – European Research Council, em língua inglesa) que ultrapassa os dois milhões de euros – 2 098 617 euros.

Esta prestigiada e competitiva bolsa vai financiar, durante cinco anos, o projeto AngioArchitects: Endothelial-microglial communication as a sculptor of brain capillary network architecture (Comunicação endotélio-microglia como escultora da arquitetura da rede capilar cerebral, em língua portuguesa).

A investigação pretende desvendar novas informações sobre o desenvolvimento do cérebro de recém-nascidos, de forma a compreender que fenómenos o podem impactar nos primeiros 28 dias de vida.

Para tal, a cientista do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da UC e do Instituto de Fisiologia da Faculdade de Medicina da UC vai estudar como se organiza a rede tridimensional de mais de 600 quilómetros de microvasos no cérebro, que se expande, sobretudo, após o nascimento.

Esses vasos não apenas protegem o cérebro, como também garantem oxigénio, nutrientes e remoção de resíduos.

Vanessa Coelho-Santos destaca que há ainda muito por descobrir nesta linha de investigação: “ainda pouco se sabe sobre como se organizam as células endoteliais – a base dos microvasos sanguíneos – para criar a rede capilar cerebral, e de que forma as células do sistema imunitário do cérebro, as microglias, contribuem para essa formação durante esta fase essencial do desenvolvimento do cérebro dos recém-nascidos – o período neonatal”.

“O grande enigma é perceber como é que as células endoteliais sabem onde se ligar: seguem sinais específicos onde algo indica o caminho ou já nascem com esse destino traçado?”, acrescenta.

Neste âmbito, o projeto AngioArchitects admite “que o diálogo e a cooperação entre estas duas populações celulares sejam fundamentais para a formação dos vasos: enquanto umas fornecem a direção, as outras asseguram a condução até ao local adequado”, elucida a investigadora.

“Ao desvendarmos o contributo das microglias na organização da rede de vasos sanguíneos no cérebro, poderemos transformar a nossa compreensão sobre como os vasos do cérebro se formam e como as respostas neuroimunes – nomeadamente após uma infeção ou dano cerebral – moldam a rede capilar cerebral e, consequentemente, influenciam o desenvolvimento do cérebro e a sua suscetibilidade a doenças neurológicas”, avança a cientista.

Para Vanessa Coelho-Santos, que se dedica desde 2017 a estudar o desenvolvimento cerebral de recém-nascidos, “este financiamento é crucial para estudar o desenvolvimento fisiológico e como tudo acontece normalmente no cérebro, porque só isso nos vai permitir identificar e compreender processos que podem ajudar, no futuro, o tratamento de doenças cerebrais”.

“A criação de novos vasos é crucial para a regeneração após lesões cerebrais, e compreender esses mecanismos durante o desenvolvimento pode abrir caminho a progressos na medicina regenerativa”, contextualiza. “Talvez a chave para explicar a resiliência e plasticidade do cérebro ao longo da vida esteja em perceber como esta rede se estabelece no período neonatal”, partilha a cientista.

Além das atividades de investigação, esta bolsa vai financiar a aquisição de um novo equipamento de ponta (chamado multifotão adaptado para awake imaging) para avaliar, em tempo real sem recurso a anestesias, mas sem dor, a atividade cerebral de forma mais real; e a criação de uma equipa de investigação, com a contratação de quatro elementos, que se vão juntar a Vanessa Coelho-Santos neste projeto.

As ERC Starting Grants são um financiamento altamente competitivo do Conselho Europeu de Investigação, sendo destinadas a financiar projetos de excelência de cientistas promissores em início de carreira, para que possam implementar os seus projetos e criar grupos de investigação.