Entre 2023 e 2026, as Aldeias do Xisto vão receber residências artísticas e workshops, integrados na candidatura apresentada pelo Projeto Entre Serras ao programa Europa Criativa.
A ligação à natureza e às comunidades, o questionamento da paisagem e as linhas de interseção entre arte e ruralidade continuam a ser os vetores que norteiam a estratégia de acolhimento artístico no território. Este projeto vem por isso, reforçar o papel deste território enquanto laboratório vivo e aberto à experimentação.
Sob o tema global “Habitar e mover-se em territórios de montanha”, a candidatura apresentada pelo Projeto Entre Serras (PES), que junta parceiros de Portugal, Espanha e França, questiona a relação entre o olhar e a vivência da paisagem. Movimentar-se erraticamente pelo mundo é o modo mais primitivo de exploração do território. Com o Neolítico, a domesticação das plantas (agricultura) e dos animais (pastoreio) gerou dois tipos de espaço que se foram excluindo: o sedentário e o nómada, o doméstico e o selvagem.
Desde os anos 70, artistas como Richard Long, Hamish Fulton ou Alberto Carneiro em Portugal, fizerem da marcha e da descoberta do território a sua arte. Na continuidade de um triplo entendimento do ato da atravessar a paisagem (ação), da linha que atravessa o espaço (objeto), e do relato do espaço atravessado (experiência, estrutura narrativa), a marcha tem vindo a ser explorada enquanto forma estética, forma de sentir, desde o século passado (Henry David Thoreau). No mesmo tempo, a mecanização e a digitalização vêm tornando débil a separação entre o rural e o urbano.
Neste contexto, a proposta do PES, alicerça-se na experimentação artística in situ para onde convergem a teoria, a história, e práticas sensíveis. Na encruzilhada entre a vida social, económica, política, ecológica e cultural, a experiência do meio e do local é encarada na sua interação, mental e física, como arte ecológica. O projeto questiona a necessária reabilitação do mundo sensível e a separação desastrosa entre Natureza e Cultura a que assistimos durante os últimos séculos. Como vê o território quem nele habita ou transita? A mobilidade dos agentes, artistas e atores humanos e não humanos, bem como as dinâmicas institucionais, fazem parte do projeto que pode ser visto como um inquérito ao território, pois questiona a complexidade da paisagem na sua sinergia com realidades ecológicas.
O projeto inclui caminhadas que juntarão artistas e cientistas, residentes locais e forasteiros, ações ambulantes e colaborativas. Contará também com residências artísticas, conceção de um dispositivo de arquivo e visualização, debates e exposições.
Terá como metodologia de base o trabalho em rede, a pesquisa e a cocriação efetiva entre entidades. Tendo como entidade líder o Museu da Paisagem/Instituto Politécnico de Lisboa, em Portugal, além das Aldeias do Xisto, são ainda parceiros a Câmara Municipal de Castelo Branco/Fábrica da Criatividade e o Geopark Estrela. Os parceiros franceses são o Município de Digne-les-Bains nos Alpes de Haute Provence (AMBULO: CAIRN – Centro de Arte Informal de Pesquisa sobre Natureza + Maison Alexandra David-Neel + Musée Gassendi) e a École Supérieure d’Art d’Aix-en-Provence. Os parceiros espanhóis são o Museo Vostell Malpartida e o Ayuntamento de Malpartida de Cáceres (Centro de Vias Pecuárias).