Um jovem empresário de Mira de Aire, no concelho de Porto de Mós, lançou uma marca de sapatos produzidos com cânhamo e a sua mais recente criação são umas sapatilhas de corrida sustentáveis e com alta performance.
Bernardo Carreira, 30 anos, que abriu na terça-feira a primeira loja física da 8000 Kicks, na Lx Factory, em Lisboa, contou à agência Lusa que o mercado mais forte é nos Estados Unidos.
“Somos inovadores no cânhamo, que foi uma fibra que se baniu há 50 anos por causa do estigma ligado à canábis e acabou por se banir o cânhamo industrial. Desde há cinco anos que temos estado a reintroduzir esta fibra. A maior parte dos países ainda nem sequer tem uma infraestrutura capaz de a produzir”, explicou o sócio-gerente da 8000 Kicks.
Com 80 anos, Maria Otília Santarém, avó de Bernardo Carreira, tinha mais de 50 anos de experiência de têxteis, pelo que foi desafiada pelo neto para participar consigo no projeto de produção de sapatilhas feitas à base de fibras de cânhamo.
O empresário afirmou que não é a avó que desenha os sapatos, mas “dá a sua experiência para se desenvolver o cânhamo para todas estas aplicações”.
Segundo Bernardo Carreira, o cânhamo é “a fibra natural mais resistente do planeta, logo, também, uma das mais sustentáveis”.
“O nosso trabalho tem sido reintroduzir esta fibra aos poucos e trazê-la para o século XXI. Ela foi usada para fazer as cordas dos descobridores, as velas dos barcos. Essa descoberta do tecido tem sido feita por mim, ou mais concretamente pela minha avó, que é a grande engenheira do tecido”, adiantou.
Formado em Gestão, a ideia de algo empreendedor surgiu após os anos em que viveu entre os Estados Unidos e a China, países onde realizou o seu mestrado, trabalhando dois anos em Londres.
“Fiz as minhas poupanças e, quando voltei para Portugal, decidi começar na empresa de sapatos”.
A ideia surgiu “numa noite de copos com os amigos”.
“Houve um deles que disse: olha, agora que se está a legalizar a canábis, porque é que não aproveitas para fazer uns sapatos de cânhamo? Para ser honesto, na altura, nem sequer estava a par das propriedades do cânhamo”, confessou.
Depois de várias pesquisas sobre a utilização do cânhamo na indústria têxtil, Bernardo Carreira percebeu que esta fibra tinha potencial.
“A indústria da moda é das mais poluentes a nível mundial. Se conseguirmos fazer com que as pessoas passem a usar uma fibra sustentável, então não há razão para que as pessoas não possam usar uma moda sustentável”, afirmou.
O trabalho desenvolvido pela 8000 Kicks pretendeu mostrar que é possível criar “sapatos de corrida de maneira sustentável”.
“Está aqui um sapato feito de materiais naturais com performance e que pode ser usado para correr maratonas e que não precisa de sacrificar o ambiente”, constatou.
O empresário revelou que, há cerca de um mês e meio, lançou uma campanha de ‘crowdfunding’ e angariou perto de 100 mil dólares, “quase tudo para o mercado americano”.
Já venderam cerca de mil sapatilhas.
“Basicamente, para consolidar um bocadinho mais a marca, abrimos a nossa ‘flagship store’ na LX Factory”, reforçou, adiantando que, além de sapatos, a 8000 Kicks produz ainda mochilas e acessórios.
“Temos imensos produtos a ser desenvolvidos. O nosso foco é continuar a inovar e a mostrar a toda a gente que nós somos os reis do canábis”, brincou, ao referir que, “apesar da piada”, pretende evidenciar que “é possível fazer produtos iguais ou superiores aos de plástico, mas em cânhamo, vegan e sustentáveis, e que então não há razão para que se continue a produzir de maneira pouco sustentável”.