A Bélgica viveu esta terça-feira um dia de forte mobilização sindical, com cerca de 80 mil manifestantes nas ruas de Bruxelas, segundo dados da polícia. A jornada de ação, convocada pela frente intersindical, decorre em pleno período de negociações orçamentais e surge como resposta às medidas de austeridade preparadas pelo governo federal para o Orçamento do Estado de 2026.
A apresentação oficial do orçamento, prevista para hoje, foi adiada uma semana, mas as intenções do executivo liderado por Bart De Wever já motivaram forte contestação. Os sindicatos acusam o governo de lançar um “ataque em grande escala” ao Estado social, apontando cortes na proteção social, serviços públicos, segurança social e reformas.
Thierry Bodson, presidente da FGTB, alertou na abertura da manifestação: “Uma geração inteira recusa-se a permitir que seja destruído em seis meses o que os nossos pais e avós levaram décadas a construir”.
Entre as medidas mais contestadas estão o limite de dois anos para o subsídio de desemprego e a reforma do sistema de pensões, que prevê o fim dos regimes especiais e o alinhamento das pensões do setor público com as do setor privado. Nas ruas, os manifestantes empunhavam cartazes com palavras de ordem como “Direito à reforma aos 65 anos” e “Procurados por roubo de pensões”.
Profissionais dos setores educativo e social marcaram presença em força, denunciando o impacto das medidas na Bélgica francófona. “Venho reivindicar os meus direitos e os dos meus alunos. Se isto continuar, que futuro terão?”, questionou Victoria Coya, professora de 27 anos. Já Chantal Desmet, desempregada de 59 anos, disse estar “revoltada com o futuro dos filhos, que não conseguem emprego”.
Transportes severamente afetados
A paralisação teve efeitos expressivos na mobilidade em todo o país. O aeroporto de Bruxelas-Zaventem cancelou todos os voos com partida agendada para hoje, justificando a medida com a greve dos serviços de segurança. Os voos de chegada também enfrentam risco de cancelamento. O aeroporto de Charleroi tomou a mesma decisão, suspendendo todas as operações de entrada e saída durante o dia.
Os transportes públicos em Bruxelas, Valónia e Flandres foram igualmente perturbados, com circulação reduzida ou totalmente interrompida em várias linhas de metro, autocarro e elétrico.
A manhã ficou ainda marcada por incidentes junto à circular interna de Bruxelas, onde grupos de manifestantes encapuzados provocaram danos materiais e iniciaram pequenos focos de incêndio. A polícia efetuou várias detenções e registou confrontos isolados.
Este dia de mobilização, um dos maiores dos últimos anos no país, aumenta a pressão sobre o governo belga num momento decisivo das negociações orçamentais, deixando o sinal de que os sindicatos estão dispostos a prolongar a luta caso as reformas avancem nos moldes previstos.


