Pelo menos dez professores foram mortos na província de Cabo Delgado, Moçambique, desde o início da insurgência armada em 2017, segundo dados divulgados pela Organização Nacional dos Professores (ONP). A estimativa reflete o impacto direto do conflito sobre o setor da educação, numa região marcada por ataques terroristas e deslocações massivas de população.
“A estatística confirma dez professores mortos por insurgência no período em referência”, afirmou Teodoro Muidumbe, secretário-geral da ONP, sublinhando que os educadores têm sido vítimas diretas da violência em zonas onde persistem confrontos e ataques a aldeias.
A província de Cabo Delgado, rica em recursos naturais, nomeadamente gás natural, tem sido palco de ataques desde 5 de outubro de 2017, data do primeiro incidente violento em Mocímboa da Praia. Desde então, a região enfrenta uma crise humanitária prolongada.
Na segunda-feira, durante as comemorações do Dia Nacional do Professor, o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, prestou homenagem aos docentes e profissionais da educação que, apesar das condições extremas — desde ataques armados a fenómenos climáticos e surtos de doença — continuam a garantir que o ensino não seja interrompido.
Em setembro, a Associação Nacional dos Professores de Moçambique (ANAPRO) condenou publicamente os atos de violência, após a confirmação da morte de mais um docente em consequência de um ataque em Mocímboa da Praia. “Repudiamos os atos bárbaros e inaceitáveis que atentam contra a dignidade humana e o direito fundamental à vida”, referiu a associação em comunicado.
Escalada de violência e deslocações forçadas
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), entre 22 de setembro e 6 de outubro, cerca de 40 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas em Cabo Delgado e na vizinha província de Nampula, devido a um novo aumento dos ataques armados. Só neste período, foram registadas 39.643 deslocações, correspondentes a 12.335 famílias.
O Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) estima em 6.257 o número de mortos resultantes da insurgência em oito anos, alertando para a atual retomada da violência e o agravamento da instabilidade na região.
A contínua ameaça do extremismo coloca em risco não apenas a segurança das populações, mas também o futuro educativo de milhares de crianças e jovens, com escolas destruídas, comunidades em fuga e professores sob permanente risco.